sexta-feira, 18 de julho de 2008

Crimes contra Jornalistas no MS terá manifesto feito pela ABI.

21/06/2008 18:48
Por: Eduardo Carvalho
Crimes contra Jornalistas no MS terá manifesto feito pela ABI

O Jornal Última Hora entrevistou o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo. A entrevista começou de uma forma descontraída e com lembranças das lutas sindicais no período de 1960, travadas pelo sindicato dos jornalistas da então Guanabara. Maurício Azedo, com saudosismo ímpar, lembrou dos diversos encontros e reuniões dos quais participou juntamente com o avô deste redator, Gérson Daniel, um jornalista, segundo Maurício, combativo e que não se curvava aos caprichos da elite e políticos da época. Prosseguindo sua narrativa falou de um período difícil, onde o patronato vorazmente tentava solapar os mais comuns direitos que os trabalhadores da época detinham, e para piorar tinham que se desvencilhar do 'pelego' que estava em mandato eletivo. Retirá-lo do cargo era uma questão de honra para os jornalistas que não mais conseguiam viver aqueles tenebrosos dias de profissão. Maurício nos recebeu da mesma forma que vivenciei quando ainda trabalhava aqui no RJ, tempos saudosos de Rádio e que ele, na época, detinha o cargo de vereador na cidade maravilhosa. Sorridente, perguntou como estava vivendo o maior colaborador da Imprensa sul mato-grossense, o homem que impulsionava os jornalistas a desistirem do seu mister.

Surpreso, perguntei quem seria esse homem, e ele da mesma forma, ou seja, sorridente me disse: André Pucinelli, seu governador! E fechou o semblante. Pronto, começava ali a polêmica entrevista. Maurício disse que como presidente da ABI, como jornalista com histórico de lutas sindicais, que foi até perseguido pela ditadura militar, repudiava e até mostrou um manifesto que a entidade fez em razão do processo que culminou na condenação do jornalista Fausto Brites. Disse não aceitar essa situação e foi além quando manifestou a idéia de que TODOS os casos semelhantes chegados à entidade serão respondidos com repúdio público. "O veículo ao qual Fausto desempenha sua função tem de ser respeitado, e qualquer forma atentatória a liberdade de expressão tem que ser rechaçada por todos.. Sem UNIÃO os jornais, sejam eles 'pequenos' ou 'grandes, ficam a mercê do autoritarismo e consequentemente tendem a sucumbir".

Última Hora: Mato Grosso do Sul tem uma história triste no que diz respeito à segurança do exercício do Jornalismo. Em 29 de outubro de 1997 o radialista Edgar Lopes de Farias, o 'Escaramuça' foi assassinado, e no dia 9 de junho de 2003, Edgar Ribeiro Pereira de Oliveira, sócio proprietário do jornal semanário Boca do Povo, também foi morto a tiros. Há segurança para se fazer jornalismo investigativo no Brasil, em especial fora dos grandes centros?

Maurício Azedo: Eu penso que não! Eu penso que não! Apesar de termos a plenitude da liberdade de imprensa, assegurada pela Constituição que o Governo Federal respeita, mas que é observada apenas nos grandes centros de produção de notícias como, por exemplo, em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, esses dois estados, que fique bem claro, nas capitais; no resto do país, no interior do país, o exercício da profissão de jornalista, ela se torna uma atividade temerária, se você desagrada os donos do poder político, os donos do poder econômico, o jornalista fica sujeito à pressão, à represália e à violência que, em alguns casos, desembocam no assassinato desses profissionais, inclusive cito um caso recente no interior de São Paulo, que deve ter um ano e pouco, no máximo dois anos, ocorrido no município de Porto Ferreira, onde o jornalista Luís Carlos Bourbon foi assassinado por um mercenário contrato para executar essa tarefa e pasmem, até hoje os mandantes desse crime não foram presos e nem punidos, então o exercício da liberdade de imprensa fora desses centros é muito difícil e consequentemente a atividade de jornalismo fora dessas capitais é uma atividade de altíssimo risco.

UH: Como o jornalista deve proceder para trabalhar em segurança ao "cutucar a onça com vara curta", ou seja, ao investigar os 'podres' dos poderosos, dentre esses político e empresários corruptos?

MA: Eu penso que o profissional de imprensa não tem outra opção senão aquela de mergulhar fundo na apuração desses fatos, porque o jornalismo tem um compromisso com a busca da verdade e com a busca do que é ético e adequado com relação com o interesse público em relação ao interesse da apuração meticulosa desses fatos, apesar dos riscos os jornalistas tem que perseverar nesse caminho da busca dessas informações, evidentemente cercando-se de cautelas e não dando 'mole' para as eventuais autoridade e pessoas que considerem 'desagradáveis' ao noticiário que os jornalistas publique, antes que essas se 'levantem' e resolvam adotar represálias. No caso específico que mencionei do Luís Carlos de Borboun, ele foi assassinado no interior paulista de Porto Ferreira, e na verdade ele foi muito desatento aos riscos eminentes que corria.

UH: O que o senhor considera mais danoso ao jornalismo brasileiro: o período da ditadura militar ao qual o senhor foi até perseguido, preso e torturado, ou a ditadura econômica que ocorre hoje, onde tal prática acaba amordaçando muitos veículos de comunicação?

MA: Eu acho que a repressão e a mordaça da ditadura militar foi um negócio terrível e nada do que acontece hoje se compara aquela repressão, pois era uma repressão que não só impedia a circulação de idéias, de informação e opiniões, mas que também desembocava em ameaças e violências contra jornalistas, com exílio, prisão, tortura, e mortes inexplicáveis, temos dentre os desaparecidos os quais não se têm notícias há cerca de trinta anos inúmeros jornalista entre eles um membro destacado da ABI, Orlando Bonfim Junior, originário de Minas Gerais, mas que há muito estava radicado no Rio de Janeiro, e que foi preso nos anos setenta e que até hoje não se tem notícia do destino de seu corpo.

UH: Qual sua posição sobre a necessidade da formação em curso superior de jornalismo?

MA: Eu acho indispensável que os jornalistas, pela importância social de sua tarefa tenham que ter formação de curso superior, a formação de nível superior não se confunde com a exibição de um mero diploma, o jornalista tem que estar técnica, cultural e eticamente para o exercício de uma atividade que tem muita responsabilidade social.

UH: Mas isso não vai de encontro ao que o senhor disse certa feita que com a profissionalização o jornalismo perdeu o romantismo e que com a informatização quase não existe mais o relacionamento pessoal. O jornalismo de hoje é pior do que o de antigamente?

MA: eu não acho que é pior é apenas diferente, a atividade jornalística perdeu os traços fortes de camaradagem que existia há trinta, quarenta, cinqüenta anos, onde as redações viviam um clima de grande fraternidade e com o decorrer do tempo acabou esse clima e os hábitos dessa convivência foram se dissolvendo. Hoje inclusive nós temos uma agravante forte e que conspira contra essa camaradagem, essa comunhão dos jornalistas como seres, porque nas redações informatizadas já não se conversa, já não se grita, já não se estabelecem as discussões que haviam nas redações nos anos cinqüenta, sessenta, setenta e até os anos oitenta.

UH: Já que o senhor analisa o jornalismo dessa forma, o impresso vai sobreviver ou será engolido paulatinamente pela mídia eletrônica?

MA: eu acho que o impresso vai sobreviver. Ele sobrevive e vai se tornar cada vez necessário; inclusive as últimas estatísticas divulgadas em termos abrangendo a divulgação de veículos no âmbito internacional registram um crescimento da circulação dos veículos impressos inclusive nos EUA onde esse crescimento foi superior a 2% e aqui no Brasil esse crescimento se situou em torno de 7%. Na minha visão o jornal é insubstituível. Insubstituível porque ele tem uma capacidade de cobertura, de abrangência e de opinamento que os meios eletrônicos não têm. Os meios eletrônicos podem se ocupar com largueza e demoradamente em cima de um determinado acontecimento, como se deu, por exemplo, no caso do ônibus 174 aqui no Jardim Botânico. Quando se deu recentemente em São Paulo o caso Izabella, a televisão entrou na cobertura do assunto e ficou cinco, seis, até oito horas seguidas, mas isso foi uma excepcionalidade que os meios eletrônicos de comunicação têm condições de manter em caráter permanente ao contrário dos veículos impressos.

UH: Até que ponto o jornalismo deve ser engajado, ou seja, cabe ao jornalista tomar partido quando está em jogo o futuro do país, o bem da população?

MA: O jornalista sempre tem que tomar partido, ele não pode ser um ser sem alma, sem sentimento, sem convicção, sem clareza sobre a situação da sociedade. É verdade que como jornalista, por não ser dono do meio de comunicação o qual trabalha ele não pode colocar em primeiro plano as suas convicções, mas ele sabe que não pode ficar a serviço dos interesses do patronato sob o risco de ferir as normas éticas que ele se impõe como pessoa em respeito as suas convicções.

UH: E qual é sua opinião sobre o "jornalismo pessoal" que se espalha pela internet, em especial na forma de blogs?

MA: eu acho que é uma 'curtição', mas não passa disso, não tem uma significação ou mesmo um peso..

UH: Blog é só para curtir?

MA: Opção mesmo! Cito como exemplo o prefeito aqui da cidade do Rio de Janeiro, César Maia, e há até quem acredite que hoje em dia, pelo fascínio da eletrônica, pelo fascínio do computador ele dedique mais tempo ao Blog do que propriamente a administração da cidade do Rio de Janeiro, as causas da cidade, mas essa é uma forma de comunicação que não tem a influência que o jornalismo impresso, que o jornalismo eletrônico, que o rádio e a televisão têm e justificadamente.. Eu a cerca de dez dias fui a um debate aqui na PUC (Pontifícia Universidade Católica) a entrega de um prêmio de jornalismo de uma seguradora importante, a Mongeral, e essa seção de entrega desse prêmio reunia cerca de cento cinqüenta a duzentos jovens, a maioria estudantes e em sua maioria estudantes de comunicação. E na oportunidade se organizou um debate, que teve como principal expositor o jornalista Ancelmo Góis, que em um determinado ponto de sua intervenção sem que ninguém o contradissesse, o Ancelmo disse o seguinte: eu não conheço nenhum jornalista que tenha alcançado repercussão através de Blog, nem temos notícia de nenhuma matéria significativa que tenha sido produzida ou até mesmo difundida através de Blog. Esse é um tipo de jornalismo importante, mas socialmente não tem a abrangência, a profundidade e a relevância ou o alcance que tem o jornalismo tradicional.

UH: Que papel a imprensa tem tido, em sua opinião, em sua relação recente com o poder? A imprensa tem sido suficientemente independente?

MA: Eu acho que sim, acho que tem sido e até em alguns momentos ela tem avançado em juízos e divulgação de informações que faz desempenho dos homens públicos, da administração pública dos detentores desses cargos públicos, mas acho, principalmente nos grandes centros, como já mencionei Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, os meios de comunicação têm larga independência em relação ao poder público e seus ocupantes.

UH: Qual o futuro da imprensa no Brasil?

MA: Acho que a imprensa tende cada vez mais uma importância muito grande na vida nacional, porque as transformações no país a evolução do país decorre de idéias que são colocadas em discussão para a população e esse é o papel que a impressa tem feito historicamente desde seu surgimento no princípio do século passado, ainda antes da independência, então eu acho que o jornalismo tende a manter uma influência crescente na definição dos destinos nacionais.

UH: Nesse dois mil e oito a ABI completa cem anos, mas apesar de todo esse avanço aqui já elencados, jornalistas ainda são assassinados, são punidos com processos, vítimas de ajuizamentos de ações indenizatórias 'milionárias' por parte dos poderosos, e quando condenados sofrem por isso, qualquer ação impetrada sobre assuntos 'infames' são de valores exorbitantes ao 'infrator', coisas do tipo cem mil reais/dia para amordaçar e calar os profissionais de imprensa.
Os 'poderosos' não desmentem com documentos o que está escrito, ao contrário, tentam impedir que isso venha a público, nesse centenário o que a ABI tem a dizer em defesa desses profissionais?

MA: A ABI tem sustentado ao longo dos seus cem anos de existência a idéia da liberdade de imprensa, das liberdades de expressão, bem como dos direitos sociais do povo brasileiro. A ABI vê com preocupação manifestações desse tipo, inclusive na campanha eleitoral para governador do Estado, o Puccinelli, a ABI teve notícia das violências e dos processos que o então candidato André Pucinelli, ajuizou contra jornalistas e até das 'violências' que ele patrocinou e a ABI vê isso com muita preocupação e conta que ela, embora distante de áreas como o Mato Grosso do Sul, possa exercer do ponto de vista nacional uma influência que modifique a situação em pontos localizados do país, como é o caso de MS, cuja a situação no que concerne ao exercício a profissão de jornalista e ao exercício da liberdade de imprensa causa muita preocupação a essa casa centenária.

UH: Aproveito então para lhe passar cópias de documentos relativos (processo) a morte do jornalista Edgar Pereira, sócio proprietário do Jornal Boca do Povo para que a ABI tome conhecimento dessa barbárie praticada contra quem estava tão somente trabalhando, mas que em virtude desse trabalho foi ao encontro de poderosos.

MA: isso aconteceu há quanto tempo?

UH: Em 2003, mas segundo fortes comentários os assassinos apresentados são apenas 'laranjas'. Alguns dos acusados de serem mandantes dessa barbárie, na presente data detém cargos eletivos, por isso lhe trago o processo para seu conhecimento, para que alguma providência seja tomada. O senhor como presidente da ABI pode nos ajudar de alguma forma na elucidação verdadeira desse caso?

MA: Nós podemos ajudar é na divulgação através dos veículos da ABI, seu site www.abi.org.br vinte quatro horas no ar e no nosso jornal periódico de caráter mensal que abriga todas as manifestações relacionadas com a atividade da imprensa e dos jornalistas, então o que podemos fazer é estudar essa documentação e fazer textos para o jornal da ABI reclamando uma apuração dessas mortes e a punição e responsabilização penal dos acusados e prováveis mandantes desses crimes.

UH: No Mato Grosso do Sul incrivelmente existe um grupo de delegados de polícia civil apelidado de G11. Esses servidores estão acusados na justiça por cometerem todo tipo de improbidade e crimes contra o erário público, tudo denunciado através de farta documentação. A ação foi perpetrada por um delegado aposentado, hoje presidente de uma ONG, só que em virtude dessas denúncias esses 'ilibados' senhores ameaçam jornais e jornalistas com a propositura de processos intimidatórios a quem atrever-se a publicar algo sobre as fraudes e crimes praticados por integrantes do grupo. A ABI pode nos ajudar nisso também?

MA: claro que pode, desde a criação desse órgão federal em 1964 a ABI é membro do conselho de defesa da pessoa humana que tem como atribuição a defesa das garantias e direitos dos cidadãos, iremos estudar uma forma legal de agir em relação aos casos de agressão dos direitos humanos, então no âmbito do conselho a ABI pode formular representação e apresentar denúncia, sustentar e requerer que o conselho tome a iniciativa de realizar investigações necessárias para a apuração desses episódios e responsabilização de seus autores.

UH: Faça-nos um breve relato a respeito das comemorações dos 100 anos da ABI.

MA: A ABI iniciou seu Centenário esse ano, e tem como marco principal o dia 7 de abril, porque foi em 7 de abril de 1908 que o jornalista Gustavo de Lacerda, um catarinense radicado na imprensa do Rio de Janeiro, reuniu oito companheiros de profissão de atividades jornalística para criar uma associação que constituísse uma forma de amparo aos jornalistas, então nós iniciamos sobretudo no mês de abril uma série de comemorações que incluíram na abertura um recital de Villa-Lobos com arranjos de artistas e maestros de renome, uma seção da Academia Brasileira de Letras, e no dia 7 de abril aquilo que nós chamamos de Show do Centenário, onde houve um espetáculo musical com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Petrobras Sinfônica, sob regência de Isaac Karabtchevsky, um show musical com o cantor e compositor Paulinho da Viola e sua banda. E a partir daí estamos realizando uma série de eventos e subimos a vários rincões do país recebendo homenagens de instituições da sociedade civil e de organismos da administração pública como o próprio Conselho de Defesa da Pessoa Humana que dedicou grande parte de suas seções de abril à nossa entidade. E estamos com uma programação que se estenderá até o ano de 2009, estamos também com uma edição especial de nosso jornal o qual editamos o primeiro volume e no próximo mês editaremos o segundo volume.

21/06/2008 18:48
Por: Eduardo Carvalho
http://www.ultimahoranews.com/not_ler.asp?codigo=79702


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