Por Josalto Alves
-editor de segurança
Em uma semana, três policiais militares e um ex-soldado foram executados em Salvador, num franco desafio à polícia que nos últimos meses tem apertado o cerco, saturando a cidade com a presença da PM e invadindo os bairros considerados perigosos. Depois das chacinas da Baixinha de Mussurunga, do Alto das Pombas e do Bairro da Paz, as policiais Civil e Militar realizaram uma série de ações prendendo dezenas de suspeitos de crimes, entre eles o de vulgo Aladin, apontado como um dos maiores traficantes e matadores que a polícia já prendeu.
Neste fim de semana, a polícia invadiu a área da 11ª DP, considerada a mais violenta da cidade, transtornando a vida dos bandidos. O poderio do tráfico foi abalado, que busca se restabelecer. Para impor “respeito”, responde matando policiais honestos e trabalhadores, como que para mostrar “quem é que manda”. Somente este ano, de acordo com números citados ontem pelo secretário da Segurança Pública, César Nunes, 31 policiais, militares em sua maioria, foram mortos a tiros.
A última vítima foi o soldado Evandro dos Santos Brito, de 33 anos, atacado por pelo menos 12 homens encapuzados, quando estava de folga e à paisana, a poucos metros de sua casa, na Rua Direta de Nova Brasília. Os autores da execução seriam traficantes que atuam na Invasão Planeta do Macaco, insatisfeitos com a atuação combativa do policial.
Policial há 11 anos e lotado na 18ª CIPM, o soldado Evandro estaria marcado pelos traficantes da região de São Cristóvão. Na tarde de sábado, ele havia saído de casa, enquanto a esposa passava roupa, para retornar rapidamente, mas não voltou. Ao transitar na principal rua do bairro, no meio da tarde, 12 homens encapuzados chegaram em três veículos e dispararam suas armas sem nada dizer. No final do dia a policia prendeu uma mulher de prenome Eliana, que seria ligada a uma quadrilha de traficantes e tinha sido abordada pelo soldado, alertando-a para sair do crime. A família do soldado sofre ameaças.
A morte do soldado Evandro não é caso isolado. Na quarta-feira o sargento PM Teófilo Santos Matos, lotado na Companhia de Guarda da Polícia Militar, foi baleado no bairro da Engomadeira, localizada na região mais violenta da cidade, foi executado de maneira parecida quando estava perto de casa. Ele também estava à paisana e de folga. Morreu sem ter chance de se defender Menos de 24 horas, na manhã de quinta-feira, o sargento PM José Jorge de Arruda, 48 anos, também foi executado, no Engenho Velho da Federação. Ele foi atingido por mais de dez tiros, o que revela a raiva dos autores, quando também estava à paisana e de folga.
Os dois policiais, assim como o soldado Evandro, eram corretos e atuavam contra o crime, especialmente o tráfico de drogas. Na madrugada de sábado, outro soldado da PM, Gilberto Alves da Silva, 47 anos, foi assassinado no bairro de São Caetano, rua Direta da Formiga. Ele foi atingido por vários tiros disparados por um grupo de homens não identificados. Apesar de ainda lotado na 11ª CIPM, o soldado Gilberto Alves não é considerado pela PM como uma baixa da corporação, porque contra ele corre um processo de deserção. A Polícia Militar informou que Gilberto estava afastado desde 27 de agosto de 2007.
SSP invade área mais violenta da cidade.
Reconhecida pela Secretaria da Segurança Pública como a área de maior incidência criminal, a região da 11ª Delegacia, que inclui os bairros de Tancredo Neves, Sussuarana, Arenoso, Cabula, Pernambués, Saramandaia, Mata Escura, Engomadeira e Retiro, dentre outros, foi invadida desde a manhã de sábado por 560 policiais da PM e da Polícia Civil.
SSP invade área mais violenta da cidade.
Reconhecida pela Secretaria da Segurança Pública como a área de maior incidência criminal, a região da 11ª Delegacia, que inclui os bairros de Tancredo Neves, Sussuarana, Arenoso, Cabula, Pernambués, Saramandaia, Mata Escura, Engomadeira e Retiro, dentre outros, foi invadida desde a manhã de sábado por 560 policiais da PM e da Polícia Civil.
É a “Operação Saneamento” que tirou de circulação mais de uma dezena de criminosos procurados, autuados em flagrante por formação de quadrilha, tráfico de drogas e porte ilegal de arma. De acordo com os números preliminares, 29 pessoas foram conduzidas à 11ª DP, sendo nove delas autuadas em flagrante. Foram feitos quatro termos circunstanciados de ocorrência, peça que dá origem a inquérito policial. Os demais 16 conduzidos foram ouvidos e liberados.
A operação só terminou às 7 horas da manhã de ontem. A SSP divulga hoje de manhã o balanço final. De acordo com o tenente-coronel PM Antônio Barbosa Neto, chefe de planejamento do Comando de Policiamento da Capital, CPC, a operação será contínua e executada em outros bairros da capital, com o objetivo de coibir a violência e dar tranqüilidade à população.
Até o final da tarde de ontem haviam sido apreendidos um revólver calibre 44, dois de calibre 31, duas pistolas e uma carabina de calibre 12, além de maconha e crack. Em praticamente todos os bairros da área de atuação da 11ª, os policiais revistaram pessoas, entraram nos bares para checar os clientes, fizeram revista em ônibus e pararam motoqueiros para inspeção. “Neste fim de semana a violência praticamente inexistiu na área”, comemorou o coronel.“Estamos combatendo a criminalidade numa das áreas com maiores índices de violência da capital”, declarou o secretário.
Depois do crime, matadores soltaram fogos
Dor e tristeza no enterro do soldado PM Evandro dos Santos Brito, 33 anos, morto na tarde de sábado no bairro Nova Brasília. O sepultamento, ontem no cemitério do Campo Santo, foi marcado por revolta e protestos de parentes, amigos e colegas de trabalho do policial. Mesmo desconsolado, Paulino Álvaro de Brito, pai de Evandro, cobrou políticas de segurança do governo para dar apoio e suporte aos policiais.”Meu filho foi morto e ninguém faz nada. Se ele na condição de militar mata algum marginal, é preso imediatamente.”, disse.
Para Isabela Adelaide de Andrade, promotora do Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial, a violência contra policiais fugiu de qualquer expectativa razoável essa semana. “Ele era uma pessoa integrante da força pública, por isso, temos que agilizar para que os autores desses crimes sejam encontrados e punidos.”, afirmou. Discussões entre policiais, parentes da vítima e integrantes da Associação de Policiais e Praças causaram tumulto no enterro.
A principal reclamação de alguns policiais e amigos de Evandro foi devido a pouca atuação da Associação de Policiais. “Não é possível que só estejam dois presentes da Associação no sepultamento do quarto policial este ano. Isso é pouco caso”, disse um dos agentes que não quis se identificar. Pela manhã, parentes dele estiveram no Instituto Médico Legal. Segundo eles, Evandro combatia o tráfico de drogas na localidade e por isso foi morto por traficantes.
Há 11 anos lotado na 18ª Companhia Independente da Polícia Militar, em Periperi, o PM Evandro morou a vida inteira na rua Direta de Nova Brasília. Testemunhas contam que logo após a morte dele, os traficantes explodiram fogos de artifício em comemoração ao crime. “Evandro era bastante ameaçado de morte porque ele não tinha medo de combater o tráfico de sua localidade”, conta o irmão, que prefere não se identificar. De acordo com o pai da vítima, Evandro estava se preparando para ir ao trabalho. A esposa dele passava ferro na camisa, enquanto ele foi dar uma volta pelas redondezas do bairro onde morava. “Foi quando três carros com vários homens dentro, encapuzados, pararam ao redor dele e desferiram vários tiros”, relatou.
Para a família, Evandro combatia o tráfico de drogas no local. Os bandidos já sabiam que a vítima costumava andar com colete à prova de balas. “Eles só deram tiro na cabeça, porque sabiam que Evandro só andava com colete. Evandro era um homem honesto. Ele não se vendia aos traficantes”, afirma o irmão. Da mesma companhia que a vítima, uma policial feminina denuncia: “A única arma que temos é a imprensa. Estamos acuados, morrendo de medo”, diz. Segundo ela, as autoridades estão tapando os olhos para os fatos ocorridos com os policiais militares. Somente este ano, foram 24 PM’s assassinados. “Vão formar mais 1.200 policiais. Pra eles essa morte é só mais uma, né? Só esta semana foram quatro”, desabafa.
Para Deraldo Damasceno, delegado titular da 5ª , mesmo estando na condição de vítima, a polícia não deve se render, nem mostrar fragilidade. Familiares do policial pedem apoio e segurança ao governo, por temerem represálias dos bandidos. De acordo com a vizinhança, os bandidos prometeram voltar ao local do crime para continuar a matança. “Nós estamos com medo. Pretendemos nos mudar, mas ainda não temos condições pra isso”, acrescenta o irmão da vítima.
Ele relata ainda que,na semana passada, houve toque de recolher no bairro Nova Brasília, próximo da Estrada Velha do Aeroporto. O caso continua sendo investigado pela 10ª Delegacia de Polícia, sob o comando da delegada Laura Maria Argolo. (Por Tatiana Ribeiro e Hieros Vasconcelos)
Fonte: Tribuna da Bahia
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